sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Em dificuldade, esposa de trabalhador autônomo preso no vagão de metrô do Recife à espera da Justiça

 


A vida de Luana Gomes Teixeira se transformou num grande pesadelo desde o dia 4 de junho passado.  A volta para casa de seu companheiro, há três meses, se tornou o início de dias difíceis e insegurança para ela e toda a família. Edson José de Lima, de 42 anos, ao tentar entrar num vagão do metrô, na estação Prazeres, em Jaboatão dos Guararapes (RMR), teve uma de suas mãos presas e seu corpo arrastado entre estações, mesmo com todas as tentativas dos passageiros de alertar o condutor sobre o acidente. Marido de Luana, Edson faleceu poucas horas depois, deixando Luana com seu filho, de apenas um ano, e mais dois filhos adultos de outro casamento. A audiência de conciliação com a Companhia Brasileira de Transportes Urbanos (CBTU), responsável pelo transporte metroviário na região, está marcada para o dia 23 de março de 2022, mas devido às dificuldades financeiras da vítima, o advogado de defesa, Eduardo Lemos Barbosa, especialista em indenizações e Direito de Família, entrou com um agravo de instrumento na 5ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça de Pernambuco(TJPE), solicitando a antecipação da audiência e também o deferimento do pedido de tutela provisória de urgência pela dificuldade financeira da viúva e do filho.

Luana era companheira de Edson há três anos, com quem vivia na cidade do Cabo de Santo Agostinho, a 14 km da estação onde aconteceu o acidente. Juntos, eles tinham um filho, que completou 1 ano um dia antes da morte de Edson. Ele trabalhava como autônomo, exercendo a função de armador de ferragens e tudo o que recebia era para sustento da própria família. Hoje, Luana se encontra sem o marido e com muitas dificuldades. Após o ocorrido, ela precisou se mudar para a casa dos pais, já que sua renda não daria para pagar os R$ 300 de aluguel, que, junto com as tarifas de água e luz, somavam R$ 415, além dos R$ 400 de alimentação. Os pais de Luana vivem numa casa de dois cômodos na periferia do município de São Lourenço da Mata, mas precisam arcar com despesas de água, luz, internet, alimentação e necessidades de Luana, de seu filho, além de mais cinco pessoas que moram na casa junto com eles, totalizando nove pessoas.

Dores na alma

“A nossa situação está muito difícil. Meus pais estão com muita dificuldade também para arcar com as minhas despesas e a do meu filho”, reconhece ela. A viúva convive com a angústia de depender de outras pessoas da família sem saber o dia de amanhã, em meio a um quadro de depressão pós-traumático em função do luto. “Não sei como vou me virar até essa audiência”, conta Luana, que até o fechamento da matéria, não tinha um real no bolso e estava vivendo de vendas de produtos em semáforos, como panos de prato, com resultados incertos, chegando a R$ 50 reais por semana, quando os dias da semana favorecem para a venda. “Além da dificuldade financeira, machuca muito lembrar dele e de sua dedicação ao nosso filho. Dói na alma”, relata ela. “A minha expectativa é de que tenham consciência de que é uma criança que perdeu o pai, ainda não sabe se defender e que precisa das coisas.”, relata Luana, ao falar sobre a expectativa para a audiência.

 

O advogado de defesa da vítima, Eduardo Lemos Barbosa, entrou com uma ação de indenização por danos morais e materiais com pedido de tutela provisória de urgência, como prevê a legislação. O advogado, que tem escritório em São Paulo e Porto Alegre, destacou na petição inicial que a morte do trabalhador se deu de forma tão traumática e violenta que sempre será fonte de abalo psicológico para todo o seu núcleo familiar, ratificando que a indenização relativa aos danos morais é necessária para “compensar devidamente o sofrimento experimentado pelos demandantes”. O pedido de tutela provisória de urgência é para que a viúva receba da empresa demandada (CBTU) todo mês  até que o processo seja encerrado 2/3 da renda mensal do marido quando o mesmo foi a óbito, ou seja, R$ 733,33. A concessão do pedido de tutela provisória está prevista no artigo 300 do novo Código de Processo Civil(CPC).

 

Passado e futuro

 

Foi tudo muito rápido, mas as consequências perduram até hoje. A ausência de Edson foi marcante para Luana, para seu filho e também para os dois filhos que a vítima tinha de outro casamento, além de seus pais e irmãos.Edson, considerado um homem que amava a família e fazia de tudo para dar o máximo, era um trabalhador dedicado e gostava de passar o tempo com seus filhos. Sua intenção no dia do acidente era chegar mais cedo em casa para comprar leite, fraldas e tudo o que seu filho precisava.

Até hoje, para Luana, a luta é grande e existem momentos em que a tristeza toma conta. Para ela, as horas mais difíceis do dia são ao de acordar e o horário em que Edson chegaria do trabalho, quando o filho de um ano pergunta pelo pai. “Olhar para ele chamando o pai e ele não estar aqui é o que mais dói”, confessa. O amor pela família move Luana a continuar lutando, mas a situação de estar morando com muitas pessoas e dependendo de seus familiares a deixa apreensiva.

 

O acidente

No dia 04 de junho de 2021, Edson José de Lima estava com seu irmão Wellington José de Lima, voltando do trabalho, no trajeto que seria do bairro da Várzea, na Zona Oeste do Recife/PE, para casa, na cidade de Cabo de Santo Agostinho/PE. Na plataforma de embarque da estação de metrô Prazeres, no sentido de Cajueiro Seco, o armador de ferragens tentou entrar no metrô logo após seu irmão, mas as portas fecharam, prendendo parte de seu corpo. Os passageiros começaram a bater no vagão na tentativa de que o condutor conseguisse abrir, mas não conseguiram chamar a atenção.

O irmão de Edson acionou o alarme de emergência, que também não surtiu efeito, correu para avisar na cabine, mas não foi o suficiente. Em meio ao desespero, o metrô deu partida com Edson ainda preso. Ele foi arrastado para fora e caiu. Os funcionários do metrô fizeram os primeiros socorros e chamaram o Serviço de Atendimento Móvel de Emergência (SAMU). Edson foi encaminhado ao Hospital da Restauração, no bairro do Derby, área central do Recife, mas não resistiu aos ferimentos, falecendo às 21h30, em decorrência de politraumatismo.

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