quarta-feira, 2 de agosto de 2023

34 anos sem o gênio Rei do Baião

Sua trajetória artística colecionou sucessos e homenagens, mas também marcada por acidentes que moldaram sua vida e carreira

Luiz Gonzaga foi um dos maiores ícones da música popular brasileira. Colecionou sucessos e acidentes na carreira artística. Nascido em 13 de dezembro de 1912, no Sítio Caiçara, em Exu, no Sertão de Pernambuco, Gonzaga começou sua jornada musical ainda jovem. Filho do também sanfoneiro Januário, com Ana Batista. Revolucionou a música brasileira ao popularizar o baião nas décadas de 1940 e 1950. Foi influenciado pelas raízes nordestinas e pelos ritmos tradicionais da região, e, influenciou Geraldo Vandré, Raul Seixas, Gilberto Gil, Caetano Veloso e outros famosos e anônimos.

Em Limoeiro, Agreste de Pernambuco, distante 85 km do Recife, vive o Sr. Manoel Carlos, 86 anos. Sanfoneiro e fã de Gonzagão, relata um pouco da convivência com o artista. Em entrevista a este Blog, o Senhor Manoel mostra um vasto acervo particular com orgulho. Discos, livros, álbuns, histórias e todo material rico sobre o Rei do Baião. E inspirado no Velho Lua, compôs uma música homenageando a cidade de Limoeiro.

 CARREIRA

Tocou pelas ruas do Rio de Janeiro em troca de algum dinheiro, depois pelos cabarés do bairro da Lapa. Ao participar de um programa de calouros do rádio, tocando a música “Vira e Mexe”, Luiz ganhou o prêmio de primeiro lugar. Na sequência, foi convidado pelo diretor artístico da RCA, para gravar um disco e ele gravou dois.

Seu talento como músico, cantor e compositor divulgou o nome de Pernambuco no Brasil e no mundo. Seu timbre inconfundível, combinado a habilidade de tocar a sanfona, tornou-o num dos artistas mais queridos e respeitados do país e ainda o levou a conquistar incontáveis fãs, com hits como "Asa Branca", "Baião" e "Xote das Meninas". Ele era considerado um artista completo, por sua criatividade, importância e generosidade no meio musical. Em passagens por Limoeiro, o São João com Gonzaga era uma festa forte, e foi um dos lugares que ele adorou e por onde alegrou plateias, principalmente no prédio da antiga Rádio Difusora.

Em cinco anos, Gonzaga gravou cerca de setenta músicas. Fez parcerias importantes como Miguel Lima e Humberto Teixeira. Em 1945 gravou o seu primeiro disco como sanfoneiro e cantor, com a música "Dança Mariquinha."

A trajetória de Luiz Gonzaga era o ápice dos festejos juninos em todo o Brasil, mas principalmente no Nordeste. “Seu Lua” colecionou sucessos e acidentes que o afetaram tanto física quanto emocionalmente. Em 1942, ele sofreu um grave acidente de carro que resultou em sérias lesões na coluna vertebral. O incidente o deixou hospitalizado por um longo período e exigiu um intenso processo de reabilitação. Apesar de todas as dificuldades, Gonzaga voltou aos palcos e continuou a encantar multidões com sua música. Em 1978, outro acidente marcaria sua vida. Dessa vez, ele caiu no palco durante uma apresentação, o que resultou em uma fratura no fêmur. Novamente, ele precisou passar por um processo de recuperação, mas sua paixão pela música e o apoio dos fãs foram fundamentais para sua superação.

VIDA E PERSEVERANÇA

Segundo o seu sobrinho, Luiz Fausto, mais conhecido como Piloto Gonzaga, o artista era uma pessoa muito bem humorada. Colocava comumente apelido nos que dele fosse próximo. Dominguinhos, Piloto, Salário Mínimo, foram nome que ele “batizou” e até hoje permanece. De acordo com Piloto, o passado militar de Gonzaga o tornou uma pessoa que passou a morar no Parque Asa Branca em 1982. Ele dizia que não temia a morte. Sempre tinha visitas na sua casa, muito fiel às suas amizades. Era um homem de fé, era generoso, ajudava as igrejas e a quem o procurasse. O São João com Gonzagão era sinônimo de multidão.

“Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito o seu povo, o seu sertão; que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor... este sanfoneiro viveu feliz por ver o seu nome reconhecido por outros poetas. Quero ser lembrado como sanfoneiro que cantou muito o seu povo, que foi honesto, que criou filhos, que amou a vida, deixando um exemplo de trabalho, de paz e amor”., declarou Luiz Gonzaga.

Seu sobrenome poderia ser Perseverança. Ele lutou muito para viver e com muita resiliência. Se estivesse vivo estaria completando 111 anos, neste ano de 2023. Quando faleceu em 2 de agosto de 1989, ele não tinha a dimensão da sua importância, da sua existência e contribuição para música nordestina. Em comemoração à sua data de nascimento, foi instituído o Dia do Forró.  Sanfoneiros reverenciam e fazem festa terra na natal do Rei do Baião. Uma “sanfoneada” é organizada e desfila, embalada ao som do forró por um percurso de cerca de 2km, até o Parque Asa Branca, reverenciando o nome do “Velho Lua”, como também era conhecido.

Luiz Gonzaga partiu, deixando uma esposa, dois filhos e um incalculável legado para a música brasileira. Sua contribuição para a valorização das tradições nordestinas e a popularização do baião o eternizaram como um dos maiores ícones da nossa história musical. Mesmo após tantos percalços, sua música continua a encantar gerações e sua memória permanece viva na lembrança dos brasileiros. Sua música o tornou símbolo de luta, perseverança e resistência, representando o Nordeste do Brasil.



Por Tânia Lima e Luís Correa

Imagens do livro; Luiz Gonzaga 110 do Nascimento,escritor Paulo Wanderley.

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