A degradação do rio vem se agravando e chama a atenção do poder público e da população para a necessidade de preservação
Com nascente localizada em Jussaral, na Fazenda
Condado, no município de São Vicente Férrer, no Agreste de Pernambuco, o Rio
Siriji tem extensão de 74 km e também percorre os municípios de Vicência,
Aliança e Condado. Infelizmente, um dos rios mais conhecidos do interior, se
encontra em estado crítico, situação que é realidade, desde os tempos dos
grandes engenhos de cana-de-açúcar, quando a produção açucareira despejava os
seus dejetos no rio, ocasionando a extinção de várias espécies de peixes da
região.
Durante os últimos anos, o Rio Siriji continuou
sendo degradado por causa da ação humana e isso, prejudicou, além da fauna e
flora local, o consumo de peixes, especialmente por parte dos habitantes do
povoado que integra o Vale do Rio Siriji.
De acordo com o historiador Uenes Gomes, Mestre em
Educação pela Universidade de Pernambuco (UPE), “o rio Siriji continua sendo
adoecido, cotidianamente, com os despejos de dejetos fecais nas suas margens e
com o descarte irregular e a construção nas margens do Siriji que dificulta
todo e qualquer processo de recuperação da mata ciliar e do próprio rio, para a
população voltar a usá-lo”, explicou.
Uenes ressalta que a população comete o descarte
irregular do lixo doméstico no Rio Siriji. “É preciso que haja um diálogo constante
entre população local, poder público e educação, para que possamos, de forma
contínua e horizontalizada, fazer um plano de educação ambiental e sensibilizar
a população. Dessa forma, teremos de novo o Rio Siriji que a gente conhecia
quando era criança”, lembrou.
Joseilton Medeiros, 58 anos, morador há mais de 40 anos, no Vale do Siriji, lembra-se de quando a população ainda consumia a água do rio. “Ao amanhecer íamos ao rio para retirar a água para o nosso consumo. Com o tempo, começou a ficar sem saneamento, aparecendo fezes, e hoje está assim, nesta situação de degradação. Não vemos a água do rio sendo tratada, precisa-se de um tratamento rigoroso, pois a água nunca está limpa”, comentou.
O morador José Belo, 50 anos, conseguia seu
sustento através das retiradas das areias do Rio Siriji, mas hoje não pode
realizar esse trabalho por causa da degradação do rio. “Passei muitos anos
conseguindo o sustento da minha família, através desse trabalho. Parei de
retirar a areia do rio, a partir das construções das barragens. Sinto saudades
de realizar esse trabalho. Se a situação do rio melhorasse, voltaria”, revelou.
A nascente do Rio Siriji vem, a cada dia, sendo degradada. E isso, pode afetar o nível de chuva na região, como explica o extensionista do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), do Munícipio de São Vicente Férrer, Luís Filho. “A degradação, principalmente, por causa dos desmatamentos dos mananciais, contribui para que haja uma menor afluência dos dois rios: o Siriji e o Capibaribe Mirim, explicou. Infelizmente, a população que vive em torno do rio pode ser afetada com a esquistossomose, doença causada pela infecção por vermes parasitas de água doce. Segundo Alberto Aguiar, gerente de Vigilância em Saúde de São Vicente Férrer, entre os anos de 2017 e 2020, foram ofertadas a 7.235 pessoas a opção de exames coproscópicos de forma gratuita. “Tivemos adesão de cerca de 4.396 habitantes, o que corresponde a 60,76% do total ofertado. Infelizmente, cerca de 2800 cidadãos, o equivalente 39,24% que foi procurado nesse período histórico, se abstiveram de realizar o exame. Dessa forma, o trabalho fica prejudicado, pois perde-se a oportunidade de se fazer um mapeamento amplo, que demonstre a real situação do município. Isso, sem dúvidas, contribuiria no delineamento epidemiológico da doença, contribuindo com o delineamento de políticas de saúde no âmbito municipal, voltadas à população que se encontra mais suscetíveis ao risco de contrair tal agravo”, ressaltou.
Formado em História e Geografia, respectivamente,
pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP) e pela Faculdade de Filosofia
de Pernambuco (FAFIPE), o pesquisador Jessé Alves relata que o Rio Siriji
chegou a secar por causa da retirada descontrolada da água feita pelos
fazendeiros locais. Hoje, o historiador faz um apelo à preservação ambiental.
“Na época dos engenhos, a degradação era mínima, mas a vinda dos defensivos
agrícolas e a descida dos adubos das serras para dentro do rio prejudicaram o
meio-ambiente. Precisamos que o poder público olhe para a situação do Rio
Siriji e trace um plano de recuperação”, comentou.
Com toda essa degradação, os órgãos têm voltado os
olhos para a situação do rio, como explica o historiador Uenes Gomes.
“Recentemente a nova gestão do município de São Vicente Férrer apresenta uma
preocupação em ter um diálogo com a população local sobre a situação do Rio
Siriji. Acredito que será um diálogo positivo e resolutivo para resolver a
degradação que tanto prejudica o meio-ambiente”, ressaltou.
O atual prefeito de São Vicente Férrer, Marcone Santos (PP), explica que existe há anos um projeto de uma rede de esgoto para o Rio Siriji junto com a Companhia Pernambucana de Saneamento (COMPESA). “Não foi dado andamento a execução desse projeto na COMPESA. Nossa gestão cobrará junto a instituição a realização desse trabalho. Temos o desejo de desengavetar esse projeto da COMPESA que trará realmente benefícios não só para o meio-ambiente, como também para a população local.”, disse.
O prefeito ainda ressaltou que a gestão está desenvolvendo um plano de ação para a recuperação do Rio Siriji. “Através da Secretaria de Infraestrutura, vamos iniciar a limpeza do rio, no início de março. Vamos tirar o máximo de entulhos que tiver. E peço a participação da população para mantermos o Rio Siriji limpo. Iremos também elaborar um projeto de conscientização para a população sobre preservação ambiental”, finalizou.
Em
homenagem ao Rio Siriji, o poeta repentista Edvaldo Zuzu, neto de São Vicente
Férrer, escreveu o seguinte poema:
Siriji tinha água de primeira
Para o gasto e também para beber
Com tempo pegou aparecer
No seu curso a indústria açucareira
Pecuária, café e bananeira.
Derrubada da Mata ciliar
Hoje o rio começa agonizar
Com a sua beleza se acabando
Nosso rio siriji agonizando
É urgente um trabalho pra salvar.
Tanta coisa em seu curso natural
Que serviu pra riqueza do estado.
Seu começo na fazenda condado
A nascente na Serra Jussaral.
Mas agora rio está tão mal
Que é preciso os políticos do lugar
Convocar o seu povo e trabalhar
Pra salvar o que ainda está testando
Nosso rio Siriji agonizando
É urgente um trabalho pra salvar.
O primeiro é usar a consciência
Pra saber que é nosso e é daqui
E fazer São José de Siriji
Defender com amor e resistência
São Vicente, Aliança e Vicência
Em Goiânia onde pega desaguar
Um trabalho pra revitalizar
Sem dejetos das ruas lhe estragando
Nosso rio Siriji agonizando
É urgente um trabalho pra salvar.
“Edvaldo Zuzu”.
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