Manoel Moisés sofreu infarto e o corpo ficou exposto por mais de três horas no corredor do hipermercado. O caso foi repercutido por todo o país.
O processo por danos morais
movido pela viúva do representante de vendas que morreu no Carrefour da Torre,
no Recife, e foi coberto por guarda-sóis, papelões, engradados e tapumes, segue
para sentença final este mês. O caso aconteceu em agosto de 2020, e, agora, um
ano e três meses depois, Odeliva Cavalcanti, viúva de Manoel Moises, espera
pela justiça. A morte do trabalhador, vítima de infarto, foi repercutida pela
imprensa do país após seu corpo ter sido exposto de forma improvisada entre as
gôndolas do supermercado até a chegada de autoridades para que fosse retirado
do local. Nas redes sociais, a divulgação das imagens causou espanto e
indignação.
“É como se estivesse revivendo tudo que aconteceu no dia, o descaso, tudo. Espero que seja favorável essa sentença final”, revela Odeliva. O processo está em andamento desde o dia 11 de novembro de 2020, na 12ª Vara de Trabalho. Em abril deste ano, foi solicitada uma tutela provisória de urgência cautelar pedindo que o hipermercado custeasse o atendimento psicológico de Odeliva Cavalcante, que presenciou a cena do corpo do seu marido coberto por objetos no chão, enquanto as atividades do estabelecimento funcionavam normalmente. “O modo como as empresas agiram, foi um descaso comigo e com ele, não teve atenção nenhuma. Não era só um corpo que estava ali”, desabafou.
O pedido de tutela antecipada feito pela da defesa da vítima foi motivado em decorrência do trauma causado pela cena, mas foi indeferido pelo juiz. Em julho deste ano, houve uma audiência de conciliação, que não resultou em consenso entre as partes. Há um mês, houve a audiência de instrução, para ouvir testemunhas no processo sobre a morte do representante de vendas, realizada presencialmente na 12ª Vara do Trabalho do Recife, mas também não resultou em acordo entre a viúva da vítima e as empresas.
Agora, a viúva de Manoel espera que “a justiça seja feita” pela forma com que o corpo do trabalhador foi tratado após a morte, além da falta de solidariedade e apoio da empresa, uma vez que o representante era funcionário e encontrava-se dentro do estabelecimento na hora da morte. O autor da ação, o advogado Eduardo Lemos Barbosa, especialista em indenizações e Direito da Família, está confiante no êxito da ação. O advogado é reconhecido nacionalmente pela defesa de vítimas em acidentes que tiveram grande repercussão no país, como o acidente aéreo da TAM, a queda do avião da Chapecoense e também o voo da Air France, que caiu na costa do Nordeste enquanto seguia do Rio de Janeiro com destino a Paris.
Lembranças
Além de lidar com a perda, Odeliva foi impossibilitada de ver seu marido e teve que enfrentar por horas os olhares de quem passava por perto tentando entender. Para ela, os primeiros momentos depois do acidente foram os mais complicados, porque precisou resolver vários assuntos referentes ao sepultamento e ainda houve a mudança brusca na rotina, já que ele era o principal provedor da casa. “Os primeiros meses foram muito difíceis, a maior dificuldade que estou enfrentando é ser o homem e a mulher da casa em pequenos momentos, que eram resolvidos por ele”, conta.
O apoio financeiro e psicológico que deveria ter sido prestado pela empresa, na avaliação do advogado de defesa, também não aconteceu. “Nem no momento mais crítico, nem nos meses posteriores. Ela só contou com o apoio da família e de uma colega que conheceu no ônibus num momento de desespero, quando recebeu uma ligação comunicando que o marido havia morrido”, disse o advogado de defesa. Eles não tinham filhos.
Entenda o caso
Manoel Moisés Cavalcante, de 59 anos, era representante de vendas da empresa Starlife Promo e Capital Humano Ltda, e, no dia 14 de agosto de 2020, estava repondo os produtos da Coco do Vale na sessão de bebidas do Carrefour, quando teve um mal súbito. Logo a informação foi repassada pelos funcionários, que decidiram manter o corpo no local enquanto aguardavam as autoridades. Com a justificativa de não expor a situação aos clientes que ali circulavam, utilizaram guarda-sóis, tapumes e engradados para isolar o corpo, que permaneceu no local por três horas e 30 minutos.
Enquanto isso, a viúva do funcionário, Odeliva Cavalcante, casada por 29 anos com ele e que estava dentro de um ônibus a caminho do trabalho, ficou sabendo do ocorrido ao receber um telefonema da mãe de um dos colegas de Manoel. Com ajuda de uma das passageiras que acabou virando sua testemunha, foi imediatamente até o local. Ela contou que não queriam deixar ela ver o marido e que aguardou em uma sala apenas com um copo de água e um guardanapo para secar as lágrimas.
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