Por Eliza Brito
Pessoas idosas com Doença de Parkinson obtiveram melhora na deglutição dos alimentos e, consequentemente, na qualidade de vida, com o uso de um dispositivo móvel android com biofeedback eletromiográfico. A constatação foi realizada pelo mestre Isaac Newton de Abreu Figueiredo, autor da dissertação “Eficácia de um Dispositivo Móvel Android Gamificado com Biofeedback Eletromiográfico para Função da Mastigação e Deglutição em Pessoas Idosas com Doença de Parkinson”. O trabalho foi defendido, no Programa de Pós-Graduação em Gerontologia do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), em maio deste ano, e teve orientação e coorientação das professoras Carla Cabral dos Santos Accioly Lins e Maria das Graças Wanderley de Sales Coriolano, respectivamente.
A Doença de Parkinson é um distúrbio neurodegenerativo que se caracteriza por sintomas sensitivos, autonômicos e motores. A doença pode levar a numerosas manifestações e desarranjos orofaciais – que são os relativos à mastigação, à deglutição e à salivação. “Como existem poucos estudos que relacionam o impacto das alterações mastigatórias e da deglutição nessa população e com idosos, vimos a necessidade de desenvolver um dispositivo android com biofeedback eletromiográfico para monitorar essas funções, de fácil manuseio e baixo custo”, explicou o pesquisador. A pesquisa foi financiada por meio de Edital de Apoio ao Programa de Inovação do Instituto Aggeu Magalhães, Convênio Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) – Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (Facepe).
O biofeedback surgiu, na década de 1960, como um campo de estudo e, nos últimos anos, vem se mostrando um importante instrumento terapêutico, usado no tratamento alternativo ou complementar de inúmeras condições clínicas. É um processo que permite ao paciente aprender como alterar a atividade fisiológica, objetivando uma boa evolução no desempenho de determinada função. “São transmitidas informações ao usuário de forma rápida e precisa que, com passar do tempo, são associadas com mudanças no pensamento, nas emoções e no comportamento, podendo perdurar sem o uso contínuo de um instrumento”, afirmou Isaac Figueiredo. A eletromiografia é a representação gráfica da ativação elétrica dos músculos associada às diferentes ações musculares. Desta forma, o biofeedback eletromiográfico é relativo a equipamentos capazes de quantificar o nível de contração muscular.
Durante a pesquisa para a dissertação, foi realizado um ensaio clínico com 20 idosos, dos quais 12 tinham Doença de Parkinson e oito não tinham. Metade dos idosos com Parkinson e os oito saudáveis não receberam intervenção, e a outra metade dos idosos com Parkinson recebeu intervenção. “Foi utilizado um protocolo de intervenção com um equipamento de biofeedback eletromiográfico associado a um jogo virtual para smartphones e tablets, que registrou as atividades dos músculos masseter e supra-hióideos bilateralmente, via bluetooth”, detalhou o pesquisador. O músculo masseter é o responsável por elevar a mandíbula, o que garante o fechamento dela e o encostamento dos dentes. Já os supra-hióideos são músculos que vão da mandíbula até o osso hióide e, junto com os tecidos adjacentes, formam o assoalho da boca.
Isaac Figueiredo ressaltou que o uso do dispositivo móvel com biofeedback eletromiográfico teve um efeito positivo na função relacionada à deglutição, pois foi observado menor tempo de execução de tarefa e aumento das contrações voluntárias. O estudo foi desenvolvido no Laboratório de Cinesioterapia e Recursos Terapêuticos Manuais (Lacirtem) do Departamento de Fisioterapia da UFPE, no Campus Recife, e na Associação de Parkinson de Pernambuco (ASP), também na capital pernambucana.
Para o pesquisador, o dispositivo móvel tem o potencial de ser usado em hospitais e ambientes de atendimento de saúde, especialmente em clínicas de reabilitação, unidades de Geriatria e departamentos de Neurologia, por ser de baixo custo e fácil utilização. “A tecnologia móvel, combinada com o biofeedback, pode ser adaptada para atender a diversas necessidades, ampliando seu impacto potencial na saúde da população em geral, ajudando na melhoria da qualidade de vida, autonomia e participação social do paciente”, explicou o pesquisador. A ideia é realizar ajustes necessários no software para conseguir a patente do equipamento e “depois procurar fazer a sua comercialização”, pontuou Isaac.
DISPOSITIVO – O dispositivo móvel utilizado na pesquisa tem uma forma de headband, espécie de faixa, que é posicionada na cabeça do participante. A ferramenta possui quatro canais de aquisição eletromiográfica, que ficam presos por eletrodos fixos na musculatura da mastigação e deglutição. Os sinais de ativação muscular são adquiridos sem fio e enviados via bluetooth para um aplicativo android, instalado em um smartphone.
Na tela principal do aparelho, aparece o ícone do aplicativo desenvolvido em um ambiente de uma fazenda virtual, com o objetivo de transmitir um local de tranquilidade e vida saudável ao usuário. Inicialmente, é realizado o cadastro com nome e CPF do jogador, que escolhe um alimento do menu ofertado para ser consumido durante o jogo. “Em seguida, é realizada uma calibração da contração voluntária máxima dos músculos. A partir daí, o participante é redirecionado para a página do jogo, que tem um trator e, à medida que ele mastiga, ocorre o deslocamento do trator, que vai irrigando a terra, plantando os hectares. Ao final do jogo, é enviado um relatório por e-mail do pesquisador, em uma planilha Excel, contendo os dados e valores dos sinais eletromiográficos capturados durante a atividade de mastigação e deglutição e o tempo de uso do aplicativo”, esclareceu o pesquisador.
Fonte: Ascom UFPE
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