A Escola Técnica Estadual (ETE) Deputado Afonso Ferraz, em Floresta, Sertão do Estado, promove a sua I Missa do/a Vaqueiro/a. A celebração acontece nesta sexta-feira (22), às 16h, no jardim externo da unidade de ensino. A homenageada será Soneide Vaqueira, importante representante feminina da cultura vaqueira florestana.
A atividade faz parte da culminância da disciplina eletiva “Sertão dos/as Encourados/as: memória, história e cultura da vaqueirama florestana”. Através da lente teórica feminista, a disciplina desenvolveu um processo de pesquisa e imersão na tradição vaqueira e, consequentemente, na gênese da Missa do Vaqueiro de Floresta, buscando compreender qual é o lugar da mulher nessa cultura.
O município de Floresta é o berço da Missa do Vaqueiro, importante tradição do Sertão pernambucano. Segundo o professor Paulo Henrique Novaes, que ministrou a disciplina, essa é a primeira vez que uma missa desta natureza lança luz sobre o gênero feminino, na perspectiva da inclusão. “São 65 edições, essa missa é celebrada desde 1958, mas nunca se flexionou o gênero. A Soneide Vaqueira tem fama regional e nacional. Ela estampa livros, reportagens, documentários e matérias de TV. Porém, é a primeira vez que uma mulher vaqueira é a homenageada principal de um evento dessa magnitude”, explica o docente.
A culminância seguirá todos os ritos do evento original: desfile tradicional dos vaqueiros e vaqueiras pelas principais ruas da cidade, missa campal, que será celebrada pelo padre Luciano Aguiar, e atração local de forró de vaquejada, representada pelo cantor Dilsinho Vaqueiro.
CONCEPÇÃO
A escola possui muitos estudantes inseridos na cultura da vaquejada, que são filhos de vaqueiros ou já exercem o ofício. Porém, no decorrer da disciplina, o professor Paulo Henrique também percebeu um grande interesse das alunas na música de forró de vaquejada. “Focamos nas perspectivas de interesse desses estudantes através de uma lente teórica feminista, com autoras feministas latino-americanas, numa abordagem decolonial. Assim, começamos a compreender qual é o lugar da mulher nessa tradição cultural do sujeito social vaqueiro”, explica Paulo Henrique
A partir daí, a disciplina seguiu uma abordagem interdisciplinar, que envolveu artes visuais, Literatura Brasileira focada nos sujeitos sociais vaqueiro/a e sertanejo/a, além de conteúdos de Sociologia, Língua Portuguesa, História e Geografia. Pesquisadores, escritores e produtores culturais da região foram mobilizados para dar auxílio ao projeto dos estudantes.
Conceitos fundantes das teorias feministas, como o de identidade de gênero, foram trabalhados a partir de autoras como Angela Davis e Chimamanda Ngozi Adichie. “Foi um trabalho integrado para entender que a pessoa é atravessada por vários marcadores sociais, como raça, etnia e gênero. Como uma forma de combinar esse trabalho com essas teóricas do feminismo, nós fizemos cartografias imagéticas de Soneide Vaqueira e a biografia dela”, explica o docente. Durante a disciplina, a homenageada participou de uma roda de conversa com os estudantes para debater o tema do protagonismo e da resistência da mulher vaqueira nessa cultura.
Na avaliação do professor da disciplina, a recepção dos estudantes ao conteúdo trabalhado foi excelente. “O ponto mais positivo na nossa eletiva foi essa recepção, porque eles se identificam, é o que nos torna sertanejos. É interessante que tem uma modernidade, mas eles não largam as tradições. É uma manutenção da nossa identidade, daquilo que nos caracteriza enquanto sertanejos, a cultura do vaqueiro e da vaqueira”, celebra.
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