Por Professor Fábio Marques – Mestre em Educação e Docente da Wyden
Quando se fala em Enem, uma das maiores curiosidades dos estudantes é: qual será o tema da redação este ano? Essa pergunta, que se repete a cada edição, motiva reflexões importantes sobre os critérios que norteiam a escolha dos temas, os assuntos que podem aparecer e as estratégias mais eficazes de preparação. Além disso, é essencial compreender como elaborar uma proposta de intervenção social eficiente, um dos principais critérios de correção do exame.
Segundo Fábio Marques, Mestre em Educação e docente da Wyden, a análise dos temas anteriores permite entender algumas constantes, mas o Enem também surpreende. A chave é se preparar para o previsto e o imprevisto com repertório, leitura crítica e prática constante. Desde sua criação, em 1998, os temas da redação do Enem passaram por transformações. Nos primeiros anos, eram mais genéricos, como “Viver e aprender” ou “Cidadania e participação social”. Com o tempo, os temas se tornaram mais específicos e contextualizados com o Brasil, como em “Violência na sociedade brasileira: como mudar as regras do jogo” e “A persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”. Temas como migração, minorias, saúde pública, intolerância religiosa e direitos sociais aparecem com frequência. Alguns, no entanto, surpreenderam pela abordagem específica, como em “Publicidade infantil em questão no Brasil” e “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”. Outro fator comum é a atualidade do tema em relação ao contexto nacional. Em 2011, por exemplo, o tema foi “Viver em rede no século 21: os limites entre o público e o privado”, justamente quando as redes sociais começavam a alterar profundamente as dinâmicas sociais e comportamentais no Brasil.
Com base na análise dos últimos anos e considerando os debates em alta na sociedade brasileira, o professor Fábio Marques aponta alguns assuntos que podem surgir como tema da redação em 2025: a proibição do uso de celulares nas escolas brasileiras, a jornada de trabalho no Brasil, a regulamentação das redes sociais e a inteligência artificial e seus impactos na aprendizagem. Esses temas dialogam com transformações tecnológicas, sociais e educacionais em curso, o que torna possível sua escolha como proposta de redação.
Embora seja possível identificar padrões, o Enem também pode surpreender com temas pouco debatidos em sala de aula. Nesses casos, a capacidade de mobilizar repertório sociocultural e construir argumentos sólidos faz toda a diferença. Uma estratégia recomendada é o estudo dos oito eixos temáticos sugeridos pelo Enem: meio ambiente, questões sociais, saúde e ciência, arte e cultura, direito e cidadania, educação, tecnologia e economia. A partir desses eixos, o estudante pode criar mapas mentais com subtemas relacionados. Por exemplo, no eixo "tecnologia", incluir redes sociais, inteligência artificial, segurança digital, futuro do trabalho, entre outros. Além disso, produzir duas redações por semana sobre os subtemas ajuda a ampliar o repertório e desenvolver habilidades argumentativas, tornando o aluno mais preparado para qualquer proposta.
Um dos cinco critérios de correção da redação do Enem é a proposta de intervenção social. Para ser considerada completa, ela deve conter cinco elementos essenciais: agente (quem executa a ação), ação (o que será feito), modo (como será feito), finalidade (para que será feito) e detalhamento (informações adicionais, geralmente com verbos no infinitivo). Veja um exemplo extraído de uma redação nota mil do Enem 2023: “Portanto, torna-se primordial mitigar a marginalidade do trabalho de cuidado realizado pelo gênero feminino. Dessa forma, o Ministério da Cidadania, enquanto responsável por políticas cidadãs, deve propagar dados e pesquisas que revelam a gravidade do esquecimento sofrido pelas cuidadoras, por meio de plataformas midiáticas de destaque, a fim de atingir o maior contingente possível e conscientizá-lo. Ademais, a coletividade, por intermédio do Ministério Público, precisa cobrar do Governo Federal ações efetivas de proteção ocupacional às empregadas domésticas, com o intuito de promover o labor digno a esses indivíduos. Assim, a acolhida da nova geração de pessoas da terceira idade poderá ser efetiva.”
Nesse trecho, todos os elementos da proposta de intervenção estão presentes, tornando a intervenção concreta, realista e bem estruturada. O uso de verbos no infinitivo, como “promover” e “cobrar”, reforça a objetividade das ações propostas. A preparação para a redação do Enem vai além de tentar prever o tema. É preciso entender os padrões, ampliar o repertório sociocultural e dominar a estrutura da dissertação argumentativa. E, sobretudo, praticar. Como ressalta o professor Fábio Marques, quem escreve com frequência, estuda os temas com profundidade e compreende os critérios da banca aumenta muito suas chances de alcançar a nota máxima na redação do Enem.
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