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terça-feira, 1 de maio de 2018

Governo quer apoio de igrejas para prevenir criminalidade entre jovens

O ministro extraordinário da Segurança Pública, Raul Jungmann, reúne-se com líderes religiosos de todo o país para dar início a uma mobilização das igrejas pela Segurança Pública.

O ministro extraordinário da Segurança Pública, Raul Jungmann, recebeu nesta segunda-feira (30) representantes de entidades religiosas na tentativa de sensibilizá-las a ajudar o governo a reduzir a criminalidade no Brasil, tendo como foco a juventude mais vulnerável. Após apresentar dados indicando que pôr as pessoas na cadeia não está resolvendo o problema da violência, Jungmann fez um pedido para que as igrejas “abracem” os jovens a fim de prevenir a criminalidade, especialmente nas cidades onde mais se mata no país.

Este é o segundo encontro do ministro com segmentos específicos. Na semana passada, ele e o presidente Michel Temer estiveram reunidos com integrantes do Sistema S e das federações de indústria e comércio. O foco da estratégia do governo são as 111 cidadesque registram metade dos homicídios ocorridos no país. Na quarta-feira (2), Jungmann se reunirá com os ministros da área social para discutir as parcerias que deverão ser firmadas com os diferentes setores da sociedade.

O ministro extraordinário da Segurança Pública, Raul Jungmann, reúne-se com líderes religiosos de todo o país para dar início a uma mobilização das igrejas pela Segurança Pública.
No segundo encontro para tratar da prevenção da violência, o ministro Raul Jungmann ouviu líderes religiosos de todo o país (Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)
Segundo Jungmann, as igrejas são “insubstituíveis” nesse papel, pois já promovem trabalhos sociais. A Federação Espírita Brasileira mencionou a existência de milhares de grupos de assistência social em todo o país. “As igrejas se preocupam com a juventude, que também está presa dentro do sistema carcerário, e elas têm uma palavra de valores, princípios, respeito ao outro, porque é comum a todas as religiões a defesa da vida”, afirmou o ministro.

Durante a apresentação, Jungmann mostrou números sobre o crescimento da população carcerária brasileira, que já é a terceira maior do mundo. O Brasil fica atrás apenas dos Estados Unidos e da China, que são bem maiores em termos demográficos. A maioria dos jovens presos está nessa situação por ter cometido crimes considerados menos graves, mas acaba sendo cooptada pelas facções criminosas e não consegue se reinserir na sociedade.

“Nós temos atualmente repressão social, e ela tem que haver, sobretudo para o criminoso que mata, estupra, chefe de gangue etc. Aí, mão dura do Estado. Mas também precisamos ter uma forte política de prevenção social, para evitar o crime, antes que o delito e a desordem ocorram. É dsso que a gente tem que cuidar. Precisamos estender a mão para os jovens e encontrar maneiras de inseri-los dentro da sociedade para que não sejam atraídos pelo crime organizado", afirmou Jungmann.

Nos próximos dias, o governo deve convidar para discutir o projeto representantes de organizações não governamentais (ONGs), centrais sindicais e o setor financeiro. A intenção do ministro é reunir mensalmente os diferentes grupos, em uma espécie de conselhão em prol da segurança pública. Quanto à medida provisória que vai liberar recursos "vultosos" para a segurança pública neste e nos próximos anos, Jungmann afirmou que deve ser editada pelo presidente Michel Temer até a semana que vem.

“Está claro que precisamos abraçar essa juventude, envolvê-la, antes que seja atraída para o crime, vá para o sistema fechado, faça um juramento e nunca mais possa deixar, ou será deixada pelas gangues criminosas”, acrescentou o ministro.

Participaram também do encontrorepresentantes da Confederência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil, da Aliança Evangélica Brasileira, da Assembleia de Deus e da Igreja Universal.

População carcerária

A reunião começou com a apresentação de slides sobre o crescimento da população carcerária: em 1990, eram 90 mil apenados, e os dados mais atualizados, de 2016, registram cerca de 730 mil pessoas presas no Brasil, indicando que, enquanto a população brasileira cresceu 20%, o aumento nas prisões foi de 471%. Desse montante, 40% são presos que ainda não foram julgados, nem condenados pela Justiça, e 55% têm entre 18 e 29 anos.

“A população carcerária se caracteriza pela juventude, baixa escolaridade, pretos e pobres e em grande medida presos provisórios; a larga maioria da população carcerária está presa por roubo e furto. Se somarmos, dá mais de 50%. É claro que roubo e furto têm que ser coibidos, representam delitos, e tem que haver sanção. Porém, o impacto sobre a alta criminalidade, falando com muita franqueza, é menor”, afirmou Jungmann.

Aos líderes religiosos, Jungmann disse que as políticas de combate à criminalidade aplicadas nos últimos 30 anos acabam trazendo, em última instância, novas ameaças para a sociedade. “O sistema prisional está hoje nas mãos do crime organizado. Facções criminosas controlam o sistema. E, mais do que isso, surgiram dentro do sistema prisional. Todos aqui são recrutadores de soldados para o crime organizado. Quando jogamos eles no sistema, tenho certeza de que alguns vão ter que escolher entre as grandes gangues para continuar vivos”, disse o ministro. Ele ressaltou que, ao mesmo tempo em que a sociedade clama contra a violência, coloca as pessoas que cometem pequenos crimes no “berçário do crime organizado”.

Após apresentar o quadro da juventude em condições vulneráveis, o ministro da Defesa disse que o foco do governo são os 111 municípios mais perigosas dentre os 5,5 mil existentes no país. Nesses municípios, ocorrem 50% dos homicídios registrados no Brasil. De acordo com o ministro, o papel da sociedade é fundamental para que o projeto de um governo se torne efetivo apesar das mudanças de grupos políticos que estão no poder. “A sociedade, com medo, pede prisão. Se não mata, esfola [os criminosos]. Mas a melhor política de segurança que existe é a prevenção social”, afirmou Raul Jungmann.


Paulo Victor Chagas – Repórter da Agência Brasil

Edição: Nádia Franco

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