Nessa coluna de hoje, peço
licença para reproduzir o manifesto idealizado por entidades da sociedade civil,
como Derrubando Muros, do qual faço parte, e outras, como Prerrogativas, Roda
Democrática, Direito Já, Fórum do Amanhã, Movimento Ética e Democracia. O texto
foi escrito por Antonio Prata. Um registro para nossos descendentes.
“Domingo a gente faz um país. Daqui
a dez, trinta, cinquenta anos, os que ainda estivermos vivos, poderemos contar
com orgulho pros nossos filhos, netos e bisnetos: naquele domingo, 30 de
outubro de 2022, eu estava do lado certo.
Não era um lado homogêneo o dos
que votaram pra salvar o país da catástrofe. Pelo contrário, éramos gente de
todos os cantos do espectro político, mas que passamos por cima das nossas
diferenças por concordarmos com alguns pontos inegociáveis. Que só poderíamos
ter uma vida digna na democracia. Que, numa Terra redonda, a ciência é quem
decide que remédio funciona e qual é charlatanice. Que quando centenas de milhares
de brasileiros morrem, prestamos as nossas condolências e solidariedade, não os
imitamos, às gargalhadas, morrendo por asfixia.
Ao decidirmos votar em Lula e
Alckmin naquele 30 de outubro não escolhemos uma chapa ou um partido político:
participamos de um plebiscito entre o obscurantismo e a democracia.
Naquele domingo tão perigoso
havia a chance real de um sanguinário se reeleger. Havia a chance real de que,
num segundo mandato, ele aparelhasse o STF, mudasse a constituição, silenciasse
a mídia, expulsasse, prendesse, torturasse e matasse adversários, como acontece
na Venezuela, em Cuba, na Arábia Saudita, na Hungria, no Irã, na Rússia.
O que muitos de nós não
percebemos, naquela época, é que além do risco havia ali também uma chance
grandiosa. A chance de, pela primeira vez desde a redemocratização, unirmos os
melhores quadros do país no mesmo lado. Por décadas, PT e PSDB preferiram
brigar. Agora, esquerda, centro e boa parte da direita democrática estão com Alckmin.
Armínio Fraga e Emicida estão no mesmo barco. Boulos e Simone Tebet também.
Quem já imaginou João Amoedo e Mano Brown declarando voto no mesmo candidato?
Esse monte de gente tão diferente se uniu justamente para garantir o direito de
continuar discordando. Nos unimos por sermos conservadores: queríamos conservar
a Amazônia. Queríamos conservar o SUS. Queríamos conservar as instituições e o
estado de direito. Nos unimos porque éramos liberais. Acreditávamos que os
brasileiros só seriam livres se tivessem, todos eles, pretos e brancos, ricos e
pobres, educação de qualidade. Acreditávamos na liberdade de crença em todas as
religiões.
Acreditávamos que cada um deveria
viver como quisesse, sem um Estado reacionário metendo o bedelho em assuntos
privados. Nos unimos porque éramos revolucionários: acreditávamos que o Basil
não estava fadado ao fracasso, que ele podia muito mais do que aquela desgraça
torpe que nos destruía.
Neste domingo, dia 30, vamos fazer história. Vamos votar no Lula e no Alckmin, vamos tirar o Bolsonaro da frente e começar a construir um Brasil do tamanho dos nossos sonhos e possibilidades. Para algum dia, lá na frente, poder dizer aos nossos filhos, netos e bisnetos, que o Brasil em que eles vivem, um Brasil justo, sem ódio, plural, diverso, próspero e generoso, foi fruto da nossa luta, fruto da nossa coragem e da nossa união”. Essa coluna de hoje dedico-a a Marina, minha neta.
Maurício
Rands, advogado formado pela FDR da UFPE, PhD pela Universidade Oxford
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