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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2024

Mulheres estão mais suscetíveis ao bruxismo associado a fatores psicossomáticos

Por Catarina Albertim


Estresse, ansiedade e qualidade do sono são fatores psicossomáticos analisados na tese de doutorado “Prevalência de Bruxismo e Fatores Psicossomáticos Associados em Universitários no Cenário Pós Pandemia Covid-19”, desenvolvida na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). De autoria de Vinícius Belém Rodrigues Barros Soares, a pesquisa analisou a relação entre possíveis sequelas pós-pandêmicas em um grupo de 352 indivíduos dos sexos feminino e masculino, estudantes de graduação e pós-graduação, nos casos que envolviam bruxismo em vigília e do sono. A pesquisa, defendida em 2023, constatou que a relação entre os fatores mencionados e a pandemia proporcionou um aumento nos casos, principalmente envolvendo as participantes mulheres.

O trabalho foi apresentado ao Programa de Pós-Graduação em Neuropsiquiatria e Ciências do Comportamento do Centro de Ciências Médicas (CCM), Campus Recife da UFPE, tendo como área de concentração as Neurociências. A orientação foi da professora Rosana Christine Cavalcanti Ximenes, e a coorientação foi do professor Marcelo Cairrão Araújo Rodrigues, este do Departamento de Fisiologia e Farmacologia.

Em resumo, pode-se definir o bruxismo como uma condição que afeta os músculos da mastigação, caracterizada principalmente pela ação de ranger, para fechar os dentes. O transtorno pode ser desenvolvido tanto por fatores genéticos, quanto por vias comportamentais, ligadas principalmente ao estresse e à ansiedade. Pode ocorrer em dois momentos: no estado de vigília, quando os indivíduos apertam involuntariamente os dentes e os músculos da região da boca; e durante o sono, quando o mesmo processo ocorre também de forma inconsciente, ao dormir.

Ao avaliar casos dos diferentes tipos de bruxismo, a pesquisa identificou um significativo aumento da condição após a covid-19. Percebeu-se ainda que, na população estudada, os fatores psicossomáticos eram altamente prevalentes entre os casos de bruxismo. “Conseguimos chegar a conclusões de que indivíduos sob maiores níveis de estresse e sendo do sexo feminino apresentaram uma maior chance de desenvolver sintomas de bruxismo em vigília, sendo este o subtipo de bruxismo que possui maior influência dos fatores psicossomáticos”, afirma Vinícius.

O pesquisador aponta ainda que “as mudanças nos métodos de ensino e aprendizagem para o modelo remoto, assim como variações hormonais e jornada dupla de trabalho podem ser fatores contributivos” para que o bruxismo seja mais incidente na população feminina. Entre os participantes do estudo também foi compreendido que 75,9% apresentavam uma qualidade de sono ruim e 81,5% relataram que seus níveis de estresse eram moderados e severos. Com o cruzamento das informações coletadas, foi identificado que 54,8% das pessoas sofriam de bruxismo em vigília, enquanto 39,2% apresentavam o bruxismo do sono.

“O bruxismo em vigília e o bruxismo do sono são comportamentos potencialmente danosos, pelas classificações mais atuais, e fisiologicamente diferentes na forma como se desenvolvem no indivíduo”, comenta Vinícius. Uma vez que o primeiro está associado diretamente a aspectos psicossomáticos, o segundo possui relação direta com o sono e processos de reflexos protetivos do corpo humano. As similitudes entre as condições de bruxismo são percebidas no dano causado às estruturas do aparelho estomatognático, composto por boca, dentes, articulação, estruturas de suporte e musculatura associada.

“Podemos afirmar que o bruxismo representa um risco à saúde bucal como um todo, podendo, em casos mais severos, levar a perdas dentárias ou dores crônicas na cabeça e no pescoço”, aponta Vinícius. O diagnóstico conta principalmente com o autorrelato dos pacientes, que, ao descreverem características do bruxismo, como apertar e ranger os dentes, dores na mandíbula e músculos faciais, entre outros, facilitam o direcionamento do tratamento para cada caso.

Para entender como o comportamento do bruxismo afeta a população de estudantes universitários, o pesquisador se valeu de questionários on-line e estruturou suas investigações em dois momentos. O primeiro foi dedicado à coleta de relatos a respeito do comportamento epidemiológico do bruxismo, que envolveu avaliar a ansiedade, o estresse e a qualidade de sono dos participantes. Foram avaliados alunos de graduação e pós-graduação de diversas Instituições de Ensino Superior (IES), que participaram voluntariamente da pesquisa.

Também foi utilizado um questionário específico para que os participantes pudessem realizar o autorrelato dos casos. O pesquisador destaca que “o padrão ouro para o diagnóstico do bruxismo é o exame clínico, contendo anamnese (questionário de saúde e queixa principal) e exame físico”.

NOVA ETAPA - Visando atender à demanda de cuidado dos tipos de bruxismo da população participante da pesquisa, Vinícius e o grupo de pesquisa Projeto Adolescer promoveram uma segunda etapa dos estudos. O projeto é coordenado pela professora Rosana Ximenes e volta suas ações para estudantes. Com o artifício do biofeedback eletromiográfico para aplicação do tratamento, que consiste no treinamento dos participantes para melhorar os sintomas do bruxismo, a pesquisa oferece exame clínico e orientações sobre higiene oral e hábitos alimentares saudáveis.

Vinícius explica que, “em nosso estudo, estamos utilizando o biofeedback eletromiográfico, que consiste na leitura da atividade elétrica muscular do paciente enquanto o mesmo visualiza uma escala e escuta alertas sonoros quando o músculo entra em atividade exagerada, [algo] característico do bruxismo”. Dessa forma, é possível promover estímulos sensoriais fundamentais para a melhoria dos quadros de bruxismo.

Fonte: Ascom UFPE

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